Por Oswaldo M. Rodrigues Jr. - Psicoterapeuta sexual e de casais do InPaSex
29 de outubro de 2024.
Nos últimos anos, muito se tem falado sobre a Geração Z, geralmente composta por pessoas nascidas entre 1995 ou 1997 até 2005 ou 2010. Embora existam variações nas datas, o conceito de "gerações" é uma classificação sociológica que ajuda a entender a realidade social. Nos Estados Unidos, essa categorização começou após a Segunda Guerra Mundial, quando o retorno dos soldados gerou um aumento no número de nascimentos, evento conhecido como "baby boom". Essa divisão é útil para analisar comportamentos e tendências, mas quando aplicamos tais parâmetros a outros países, como o Brasil, percebemos que as realidades sociais e históricas são bem diferentes.
O contexto brasileiro
No Brasil, alguns pesquisadores adotam classificações próprias. Alguns estudiosos, por exemplo, definem o século XX brasileiro em termos de gerações baseadas em eventos históricos específicos do país. Segundo essa perspectiva, o que é chamado de Geração Z nos Estados Unidos poderia ser enquadrado no que se define como "geração 4.0" no Brasil, com pessoas hoje na faixa dos 40 anos. Isso destaca a necessidade de adaptar classificações estrangeiras à nossa realidade local.
Além disso, as gerações não são delimitadas de forma rígida. Quando se afirma que a Geração Z começa em 1995, por exemplo, algumas pessoas podem argumentar que ela começou em 1993 ou 1998. Essas variações também se manifestam em diferentes contextos dentro de uma mesma cidade, onde grupos sociais têm acessos e experiências distintas. Por exemplo, na cidade de São Paulo, uma metrópole com 25 milhões de habitantes, o acesso a recursos e informações varia amplamente, o que afeta diretamente a formação da Geração Z.
Internet e a sexualidade
Um dos aspectos centrais da Geração Z é o acesso à internet desde a infância. Esses jovens cresceram com computadores e celulares, o que moldou sua maneira de se comunicar e de acessar informações. Um ponto relevante é o impacto desse acesso no desenvolvimento da sexualidade. Desde cedo, eles tiveram contato não apenas com discussões sobre sexualidade, mas também com a pornografia, o que influenciou profundamente suas percepções sobre relacionamentos e prazer.
Esse contato precoce com a pornografia levou a uma geração que, muitas vezes, prefere a satisfação sexual solitária, mediada pela tecnologia, ao envolvimento em relacionamentos afetivos ou sexuais. A internet oferece uma conveniência que os relacionamentos interpessoais, com todas as suas complexidades e exigências, não oferecem. O acesso contínuo e fácil a vídeos explícitos pode, para muitos, parecer mais simples e até mais prazeroso do que lidar com as dificuldades e nuances de um relacionamento a dois.
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Desigualdade de acesso e seus efeitos
Entretanto, nem todos os jovens brasileiros tiveram o mesmo nível de acesso à internet. Durante a pandemia, ficou evidente a desigualdade entre aqueles que podiam trabalhar de casa, graças à internet, e os que precisavam sair para trabalhar. No entanto, o acesso à pornografia via smartphones e redes Wi-Fi gratuitas se tornou quase universal, mesmo em áreas com menos recursos.
Ainda assim, essa desigualdade de acesso influencia o comportamento sexual da Geração Z. Aqueles que têm maior acesso à internet tendem a ser mais expostos à pornografia, enquanto os que têm menos acesso desenvolvem habilidades sociais e relacionais diferentes, por meio de interações face a face.
O impacto da internet nas relações e nas identidades
Além de postergar o início da vida sexual e o estabelecimento de relacionamentos duradouros, a internet também tem facilitado o acesso a uma vasta gama de informações sobre sexualidade. Os algoritmos das plataformas online sugerem continuamente conteúdos baseados nas preferências do usuário, o que pode restringir as escolhas e reforçar certas fantasias. Isso também significa que os jovens da Geração Z estão expostos a expressões sexuais mais variadas do que as gerações anteriores.
Embora o acesso a informações diversas possa ser positivo, permitindo que os jovens explorem diferentes identidades sexuais e se reconheçam em novas categorias, ele também pode expô-los a conteúdos patológicos ou ilegais. Esse contato precoce com uma ampla gama de expressões sexuais cria uma geração mais familiarizada com fantasias e práticas que antes não eram tão acessíveis.
Mudanças no comportamento sexual
Outro fenômeno observado é o adiamento da primeira relação sexual. Se há 30 anos os jovens começavam sua vida sexual por volta dos 15 anos, hoje muitos jovens da Geração Z só iniciam essa fase por volta dos 18 ou 19 anos, e alguns chegam aos 22 sem terem tido uma experiência sexual. Isso não necessariamente por convicções religiosas ou políticas, mas simplesmente porque não encontram oportunidades ou interesse suficiente para estabelecer relacionamentos íntimos.
Essa mudança de comportamento também está ligada ao prolongamento da formação acadêmica e ao ingresso tardio no mercado de trabalho, principalmente entre os jovens de classe média alta. Muitos postergam a saída da casa dos pais, o início da carreira e, consequentemente, o início de relacionamentos amorosos e familiares. Em vez de buscarem parceiros, esses jovens têm à disposição o mundo virtual, com acesso ilimitado à pornografia.
A Geração Z se diferencia das anteriores pelo vasto e precoce acesso à internet e à pornografia, o que influencia significativamente seu desenvolvimento sexual e social. Embora o mundo digital ofereça uma vasta gama de informações e oportunidades, ele também impõe desafios, como a dificuldade de estabelecer vínculos afetivos e a exposição a conteúdos inadequados. Essa geração, ao mesmo tempo em que adia a vida sexual e os relacionamentos duradouros, lida com novas formas de explorar e vivenciar a sexualidade, mediadas por algoritmos e plataformas online. Como isso moldará as relações no futuro ainda é uma questão em aberto, mas é claro que a internet já desempenha um papel central nessa transformação.