Mulher sozinha quer ou não quer casar?

Acostumar-se a ficar sozinha e administrar a vida desta maneira pode ser uma das formas que a manterá sozinha.

Uma mulher adulta é produzida socialmente através de complexos mecanismos sociais aos quais denominamos de socialização primária e secundária. Uma criança nasce com genitais femininos e logo recebe um nome de mulher (muitas vezes já se sabe de que sexo a criança nascerá e o pais, antecipadamente, já dão um nome?). Mesmo quando a criança nem tem como compreender-se mulher, os pais já a tratam de modo feminino e colocam expectativas sobre esta filha e como deverá ser na adolescência e na vida adulta.

Nesta interação da subjetividade com o mundo objetivo, a mulher será moldada para desenvolver-se de acordo com os padrões sociais gerais, costumeiros e desejados naquele meio social, a partir da família.

Um dos padrões que correspondem às expectativas dos pais e do mundo é de que ela, após crescer, arranje um namorado e se case, tenha filhos e dê prosseguimento ao que os pais consideram seja normal e adequado.

Neste processo de socialização existe um concomitante que é o desenvolvimento de formas de personalidade, formas subjetivas de perceber-se, perceber o mundo e destinar-se um futuro, que mesmo que ocorra concomitantemente, e geralmente na mesma direção, traz maneiras próprias e individualizadas de administrar a realidade.

Então temos dois parâmetros a considerar que conduzem uma mulher a manter-se solteira: padrão social e padrão individual (personalidade ou subjetividade).

Dentro dos padrões sociais precisamos compreender quais são as regras sociais determinantes. Há 30-40 anos uma mulher de 30 anos que ainda não tivesse casada já era chamada de tia, pois cabia-lhe cuidar dos sobrinhos dos irmãos já casados, sempre que precisassem sair ou viver a conjugabilidade afetivo-sexual. Isto ainda ocorre, mas a idade para se ter o primeiro filho de classe média para cima foi aumentado, de modo que casar-se ou não ter filhos antes dos 30 anos passou a não ser incomum?

Pelos padrões de personalidade, precisamos compreender quais são as crenças que esta mulher desenvolveu e toma para si como regras de alto grau de importância no tocante a casar. Assim vamos encontrar mulheres que se propuseram, há muito tempo em suas vidas, a produzir uma carreira profissional, desenvolver a área de trabalho, deixando em segundo plano a possibilidade de constituir família, casar e éter filhos. Estas mulheres têm aumentado em número nas últimas décadas com a necessidade de mão de obra qualificada, dando espaço para estas mulheres com outros projetos de vida que não o de primariamente casarem-se.

Mas também podemos ter mulheres que desenvolveram padrões de personalidade que produzem distorções da realidade de modo a sentirem-se exigentes demais. A exigência que conduz a obter o contrário do que dizem que pretendem na vida é um comportamento irracional e neurótico. Assim, explicar que são muito exigentes é uma forma de colocar a responsabilidade da ação fora delas mesmas. Este comportamento neurótico somente faz mal a esta mulher que não administra e não soluciona o problema que se apresenta a ela.

Estas distorções da realidade podem ocorrer em mulheres com idade adolescente. Pois mesmo que ainda nem tenham chegado aos 20 anos de idade, podem considerar-se solteiras de modo inadequado, neurótico. Uma das formas neuróticas de justificarem-se: ?Não tem mais homem no mundo?, ?homem é tudo sem vergonha? e assim seguem as formas de expiarem-se da responsabilidade e de se perceberem incapazes de cumprirem os desígnios que consideram mais corretos e adequados. Naturalmente este mecanismo é paradoxal e complicado, produzindo ansiedades e outras emoções negativas.

Uma mulher que pretenda ser casal precisa inicialmente compreender-se, conhecer as motivações pessoais, individuais, emocionais. Esta mulher precisa compreender como administra a realidade e como tem feito para satisfazer necessidades de modo geral. Compreender estes mecanismos significa poder compreender como e porque não atinge os objetivos que com sidera corretos e os quais busca. Outro passo é compreender para onde pensa seguir, que futuro pretende, se é que reconhece s sabe que pretende. Esmiuçar estas possibilidades de futuro será o passo seguinte, pois é necessário que tenha bem claro como deseja que o futuro ocorra, como querer ser e viver nas próximas décadas e o que está disponível para fazer em prol deste futuro. Assim aparece a nova fase: aprender a expressar-se de modo assertivo para que outros possam compreender suas necessidades e planos de futuro. Agora vem a fase de negociar com o outro e consigo mediando-se o que poderá conseguir e o quanto poderá deixar de lado, ceder e admitir que não alcançará, lidando com a frustração que certamente virá.

Compreender a realidade e os limites que ela nos impõe faz parte deste transito de mudança de identidade social: de solteira a comprometida com um relacionamento.
Quanto mais velha uma pessoa fica, mais cristalizada a personalidade. Isto implica que com o tempo, nossos defeitos ficam maiores e piores. Se uma mulher quer exigir mais e mais de outra pessoa para estabelecer um relacionamento, mais difícil será dela conseguir este relacionamento.

Acostumar-se a ficar sozinha e administrar a vida desta maneira pode ser uma das formas que a manterá sozinha.

Mulheres que entram em estados depressivos secundários a estarem sozinhas, provavelmente desenvolvem mais o estado depressivo, mantendo-se mais isoladas e sozinhas. Isto apenas dificultará mais ainda o encontrar um relacionamento complementar e que a auxilie a sair do negativismo.

Mulheres que querem relacionar-se e estão sozinhas cometem erros cognitivos:

? estereotipização ? nestas mulheres é comum verbalizarem que ?homem é tudo igual, só muda de endereço? e nenhum deles quer se mudar para o endereço dela ou permitir que ela se mude para o endereço dele? o pensar de modo estereotipado e extremado sempre dificultará ações.
? tudo ou nada ? Se o outro não for do jeito que ela quer, não serve. Isto revela a dificuldade em lidar com o diferente e com as nuances entre extremos.
? responsabilidade alheia ? o homem é que tem que se responsabilizar pela mulher. Se ele não pagar as contas desde o primeiro dia não serve. Este mecanismo de dependência sempre tem um custo, o da subserviência, e os castigos quando a submissão não ocorrer.
? um relacionamento é para toda a vida ? pode ser? se ambos trabalharem para isso, juntos e caminhando na mesma direção. Se consideramos as responsabilidades individuais teremos o resultado esperado? se não? o fim do relacionamento já é previsto? erramos planejando o fim!
? sem amor não vai dar certo ? a expectativa do relacionamento apenas baseado na emoção raramente dará certo. E quando parece que dá certo traz sofrimentos (basta vermos a literatura clássica sobre o amor: Tristão e Isolda, Romeu e Julieta, Abelardo e Heloísa, Werther?). O relacionamento precisa basear-se na capacidade dos indivíduos em lidar com o cotidiano, com a rotina necessária para a vida dar certo e um planejamento de futuro existir.

Inicialmente compreender as limitações individuais é o caminho para superar a solidão e poder estabelecer um relacionamento a dois. Planejar nova forma de viver o mundo e investir, dia após dia, em novas formas de administrar a realidade depois de reconhecer que o mundo não se modifica apenas por desejarmos que se modifique.
Somente esta pessoa pode mudar! E mesmo assim, apenas querer mudar é apenas um primeiro passo. Geralmente não temos as estratégias adequadas para produzirmos modificações importantes em curto prazo.

É necessário tentar? se não conseguir sozinha, procure ajuda. Um dos mecanismos existentes é a psicoterapia. Esta forma de desenvolver estratégias individualizadas é muito importante na atualidade, pois permite valorizar o individuo e as necessidades individuais, sem desprezar a realidade objetiva e as outras pessoas que pretendemos que se mantenha ou passem a existir em nossas vidas!