Mulheres que Procuram Tratamento por Problemas Sexuais

No Instituto Paulista de Sexualidade, atendemos mulheres que desejam tratar estes problemas. Como parte da investigação, utilizamos um Inventário de Sexualidade Feminina para auxiliar na consulta diagnóstica e através dele obtivemos um perfil destas mulheres.

Este perfil nos auxilia a compreender quem são as mulheres que buscam tratamento e como podemos planejar tratamentos melhores e mais eficazes para seus problemas sexuais. São mulheres com idade média de 34 anos (entre 20 e 52 anos), casadas ou em relacionamentos estáveis (81,5%), com estudos universitários (61,5%).

Os principais problemas que as fizeram buscar tratamento foram:

? inibição do desejo sexual ? 33,3%

? vaginismo ? 33,3%

? anorgasmia ? 14,8%

? inadequação sexual do casal ? 7,4%

Uma a cada quatro pacientes tinha uma segunda problemática sexual associada (inibição do desejo sexual, anorgasmia ou inadequação sexual do casal). Aqui já podemos compreender que o casal é fonte de problemas sexuais para 15% das mulheres que buscam tratamento para problemas sexuais. A diminuição do desejo sexual, motivação para os contatos sexuais, atinge uma a cada duas mulheres que buscam estes tratamentos sexológicos. Estas são queixas que motivam as mulheres a se tratar.

A masturbação iniciou-se nestas mulheres numa idade de 14 anos (entre 6 e 26 anos) com frequência de 1 a 3 vezes por mês. 7,7% destas mulheres nunca haviam se masturbado. À época da consulta, 33% masturbavam-se raramente, e apenas 3,8% masturbavam-se diariamente. Sentir que masturbar-se é bom, sem culpas ocorre em 57,1%, enquanto 19% consideram que existia culpa e sentiam que não deveriam masturbar-se. Com o problema sexual, 14,3% voltou a experimentar a masturbação.

A primeira relação sexual ocorreu aos 19 anos (entre 14 e 32 anos), com um namorado (55,6%) ou com o marido antes de se casarem (18,5%). Não tiveram uma relação sexual completa em 14,8%. A menor chance de experiências sexuais mostra-se presente por não terem tido uma relação sexual completa ou pela idade de início das atividades coitais nesta amostra. Uma a cada três destas mulheres consideraram a primeira relação sexual boa ou satisfatória, enquanto mais uma considerou terrível ou sentiu-se confusa.

A motivação para o sexo é o amor para 53,8% destas mulheres, e o desejo é motivação para 23,1%. Considerando a queixa sexual, o amor é o fator importante, e nem sempre facilitador, para a mobilização fisiológica para sexo, a exemplo do desejo sexual.

Mantendo coerência com as queixas sexuais, 52,1% reconhecem que o desejo sexual diminuiu, 18,5% afirmam que sempre tiveram pouco desejo sexual ou nunca tiveram desejo sexual (11,3%). O desejo para com o parceiro sexual atual é ausente em 30%, ou diminuiu para 23,1%. O desejo sexual para com outros homens é ausente em 48,1%, ou variável (33,3%).

A insatisfação sexual com os parceiros acontece com 84% destas mulheres, que tem ejaculação prematura em 17% dos parceiros, e uma a cada dez mulheres consideram que seus parceiros não têm tanto desejo sexual quanto elas. As queixas sexuais femininas associam-se a problemas masculinos em um terço dos casos.

Os parceiros sexuais reclamam da dificuldade sexual destas mulheres (57,7%) ou se ressentem (42,3%). Somente 26,9% são percebidos como compreensivos, e 15,4% procuram ajudar. Uma a cada dez mulheres considera que o parceiro sexual é causa do problema sexual, ou 54% consideram que o parceiro possa participar sem que consigam compreender como, embora 42,3% considerem que os parceiros não são causadores das dificuldades sexuais.

O nervosismo é reconhecido sempre associado aos relacionamentos sexuais (46,2%), podendo depender do parceiro (14,4%). Apenas uma a cada cinco destas mulheres considera que não fica nervosa no momento sexual. A gravidez é motivo de preocupação no sexo para 58% destas mulheres.

Metade destas mulheres considera que algum problema psicológico associa-se à queixa sexual que a conduziu à consulta. O desejo para o sexo é apontado como o fator interveniente direto para que a saúde sexual não ocorra (11,5%), ou que o relacionamento com o parceiro a impede de ser sexualmente feliz (19,2%). O trabalho é percebido como fonte de estresse que interfere no bem-estar sexual (15,4%).

Sobre sinais físicos da excitação sexual, 1/3 das mulheres compreende ter lubrificação vaginal adequada, 31% não fica mais tão excitada/lubrificada como ficava e outras 31% conseguem apenas uma leve lubrificação vaginal. O coito/relação sexual produz dores (56,3%).

A dificuldade de obter orgasmos com penetração acontece com 83% das mulheres, e 21% delas nunca tiveram orgasmos.

Cigarros (21%) e álcool (17% ? diferente de socialmente) são as substâncias que estas mulheres mais consomem. Antidepressivos são usados por 25%.

As fantasias sexuais não são sentidas por 35% e outras tantas não conseguem ter fantasias sexuais. As fantasias sexuais com outros homens que não o parceiro produz excitação sexual para 23% e mais 15% sentem-se culpadas por ter fantasias sexuais.

Para tratar o problema sexual 45,8% procurou um ginecologista sem sucesso, e 33,4% psiquiatras ou psicólogos. A procura de profissionais não especializados em sexualidade produz frustração na busca de superação do problema sexual.

Preocupar-se demais com a vida é apontada por 65% destas mulheres, além de ?problemas nervosos? (23,5%) e períodos de tristeza (29,5%).

Para 85,7% a psicoterapia individual será o suficiente para resolverem o problema sexual. Orientações sobre sexualidade são esperadas por 57,2% destas mulheres, e 45,2% esperam terapia de casal.

O tratamento de problemas sexuais na abordagem psicoterápica tem um foco na sexualidade e no casal onde a prática sexual deve ocorrer. A preferência técnica é de se ter o casal no consultório para o tratamento ocorrer, embora muitas mulheres apareçam sozinhas para o tratamento, muitas vezes afirmando que o parceiro ou não quer vir ou nem sabe que ela procura tratamento para a sexualidade. Muitas das mulheres com problemas sexuais, ao reconhecerem o papel do parceiro no problema sexual, compreendem que deveriam receber um atendimento psicoterápico para o casal.