Relacionamentos que fogem das normas estabelecidas sempre foram uma realidade; representatividade tem ajudado no reconhecimento social de outras formas de amar
Instituto Paulista de Sexualidade
12/06/23
Difundido em várias narrativas que permeiam a nossa sociedade, o conceito de “happy end”, ou final feliz (em português), sempre esteve presente na nossa construção de repertório seja por meio dos filmes, das séries ou dos livros. Essa ideia do “final feliz” é utilizada para o desfecho de uma história onde geralmente os personagens principais acabam, depois de uma longa jornada, juntos e felizes para sempre.
Além disso, narrativas como essa contribuem para a reforçar padrões estereotipados de relacionamento como o casal heterossexual, monogâmico e cisgênero. Essas histórias comumente deixam de fora outros tipos de relacionamento e corroboram com a ideia de que apenas uma determinada forma de amar é válida ou aceitável.
Entendendo os relacionamentos não convencionais
É importante ressaltar, todavia, que relacionamentos não convencionais, ou seja, aqueles que fogem das normas estabelecidas socialmente sempre existiram. Com a chegada da modernidade e a maior difusão de informações, o que tem ocorrido atualmente é que outras formas de se relacionar passaram a ser representadas e reivindicadas, o que vem contribuindo para que mais pessoas assumam e até mesmo entendam seus sentimentos e desejos.
Segundo o psicólogo Oswaldo Rodrigues, esta validação é importante para essas pessoas que não se relacionam nos moldes pré-estabelecidos. “O reconhecimento social é muito importante para que [essas pessoas] se percebam aceitas e facilita a interação com o ambiente social”, diz o psicólogo.
“Os relacionamentos humanos com objetivos afetivos e sexuais têm sido variados desde sempre na humanidade, mas nem sempre nomeados ou reconhecidos nos grupos sociais. Neste momento histórico, na terceira década do séc XXI, novas fórmulas para relacionamentos são compreendidas como existentes”
Entre as formas de se relacionar que escapam das convenções sociais mais conhecidas, estão os relacionamentos não monogâmicos e/ou poliamorosos. Apesar de terem similaridade, os termos possuem diferenças.
A não monogamia é um termo amplo que engloba quaisquer formas de relacionamento que envolvam a possibilidade de ter mais de um parceiro amoroso/sexual. Já o poliamor é uma forma de não monogamia que envolve ter múltiplos relacionamentos românticos e/ou sexuais simultaneamente, com o consentimento e o conhecimento de todos os envolvidos. Os relacionamentos podem ser emocionalmente profundos e podem envolver compromisso e vínculos amorosos a longo prazo com várias pessoas ao mesmo tempo.
Mas esses tipos de relacionamentos são novos?
Segundo Oswaldo, esses tipos de relacionamentos não são necessariamente novidades. O que vem acontecendo é uma maior difusão dos conceitos dentro da sociedade. “Estes formatos de relacionamento amorosos sempre existiram e ocorreram. Atualmente têm aparecido mais nas discussões midiáticas e têm sido também estudados por pesquisadores da psicologia, sociologia e antropologia, o que faz com que o assunto apareça na mídia”, afirma o psicólogo.
Outro elemento importante para essa difusão é a tecnologia. O psicólogo, que é terapeuta sexual e possui um podcast sobre assuntos relacionados à sexualidade, diz que a internet “tem permitido que as pessoas de comportamentos diferentes da maioria ideológica se encontrem e possam estabelecer um relacionamento nestes formatos diferentes”.
Aversão aos relacionamentos diferentes do meu
Ao nos depararmos com aquilo que diverge do que estamos acostumados, uma tendência de comportamento é ter medo que o “diferente” impacte a minha realidade. Isso é o que acontece quando as pessoas passam a descobrir outras formas de se relacionar. “Para os que seguem as fórmulas anteriores, chamadas de tradicionais, saber e ouvir que existem outras maneiras de relacionamentos traz ansiedades e medos de ter a realidade imediata destruída. O medo destas pessoas faz com que se expressem negativamente e agressivamente contra as variações que se mostram”, diz o terapeuta.
Um estudo recente desenvolvido pela Universidade da Flórida mostra que os preconceitos que cercam os relacionamentos não monogâmicos impactam a saúde mental de indivíduos que mantém esse tipo de relação, uma vez que essas pessoas estão sujeitas ao estigmas que cercam essas relações.
Todavia, por mais que eu não me relacione deste modo não convencional, é preciso respeito com as formas de amor existentes. É somente por meio do respeito ao diferente que podemos caminhar para a construção de uma sociedade menos violenta onde todos/todas/todes possamos ser quem somos e amar da forma que nos faça feliz.