Saúde Mental: Questões para além do Janeiro Branco

Para uma sociedade mentalmente saudável, é crucial entender que saúde mental é também uma questão política

Instituto Paulista de Sexualidade

13/01/2024

Explorar o complexo universo da saúde mental significa ampliar nosso olhar para além das experiências individuais e entrar no amplo território onde as questões políticas e coletivas desempenham um papel significativo. O Janeiro Branco, dedicado à conscientização da saúde mental, oferece uma oportunidade para refletirmos sobre como as questões políticas moldam diretamente o nosso bem-estar psicológico e, por conseguinte, nossa qualidade de vida.

É necessário compreender como as políticas públicas, decisões governamentais e estruturas sociais moldam diretamente o bem-estar psicológico das comunidades, influenciando desde condições econômicas até acesso a serviços de saúde mental. Nesse contexto, a discussão sobre saúde mental torna-se inseparável das dinâmicas políticas que permeiam nosso cotidiano.

Saúde Mental e Políticas Públicas: uma conexão necessária

A qualidade de vida, ponto crucial na equação da saúde mental, é profundamente influenciada pelas políticas públicas. Isso acontece porque essas políticas não apenas determinam o acesso aos recursos essenciais a todos, mas também desempenham um papel crucial na distribuição equitativa de oportunidades e na busca pela diminuição das disparidades sociais. 

Desde as condições econômicas até a disponibilidade de serviços de saúde e educação, cada faceta das políticas públicas repercute diretamente na qualidade de vida dos cidadãos, reverberando, consequentemente, nos aspectos emocionais e psicológicos que compõem a saúde mental coletiva. 

  1. Ter condições financeiras é essencial para “viver uma vida” com qualidade

Quando as políticas não priorizam a equidade econômica, a disparidade de renda pode gerar estresse e ansiedade, comprometendo severamente a nossa saúde mental. É impossível desfrutar de uma boa qualidade de vida sem ter meios para acessar e desfrutar de coisas benéficas! Embora o dinheiro não seja o único fator determinante para a felicidade, ele nos proporciona a oportunidade de garantir alimentação adequada, cuidados com a saúde, momentos de lazer e aquisição de bens que contribuem para o nosso bem-estar emocional.

  1. Tempo e acesso à saúde: políticas que influenciam rotinas

A falta de tempo para cuidar da saúde física e mental muitas vezes está relacionada a políticas que não favorecem a implementação de horários de trabalho flexíveis, licenças-maternidade e paternidade adequadas, ou mesmo políticas de transporte público eficientes.

A sobrecarga decorrente de jornadas extensas, a dificuldade em equilibrar responsabilidades familiares e profissionais, além dos desafios relacionados à mobilidade urbana, contribuem para níveis elevados de estresse e exaustão emocional. A ausência de medidas que facilitem a conciliação entre vida profissional e pessoal pode resultar em uma sobrecarga crônica, impactando negativamente o bem-estar psicológico e aumentando a vulnerabilidade a problemas de saúde mental

  1. Alimentação e nutrição: decisões políticas na mesa

O acesso a uma alimentação de qualidade é, em grande parte, uma questão política. Políticas que promovem a agricultura sustentável, regulamentam a indústria alimentícia e garantem a disponibilidade de alimentos nutritivos são essenciais para a saúde física e mental da população.  Além disso, alimentação de qualidade está relacionada ao fator econômico, uma vez que as famílias precisam de recursos para comer de forma nutritiva e saudável, e também à educação para uma alimentação de qualidade.

Para além do Janeiro Branco

Neste Janeiro Branco, a reflexão sobre a saúde mental não pode se limitar a ações individuais. É hora de entender que a busca por uma sociedade mentalmente saudável requer mudanças estruturais. Devemos nos engajar em diálogos construtivos sobre políticas públicas que visem à promoção da igualdade, justiça social e condições que propiciem uma qualidade de vida sustentável.

Ao reconhecermos a influência direta das questões políticas em nossa saúde mental, abrimos caminho para a construção de sociedades mais saudáveis, justas e resilientes. O desafio é coletivo, e a transformação começa quando compreendemos que saúde mental também é uma pauta política que demanda atenção e ação.